Pesadelo (Poe no campo)
E as sombras insistem em permanecer,
Mesmo eu estando debaixo de árvores desfolhadas,
Paisagem monótona em tons cinza-fúnebres,
Natureza morta assombrando minh’alma.
Tenho a visão de um pequeno cemitério em um campo deserto,
Com túmulos antiqüíssimos que carregam retratos apagados,
Flores alvas que cresceram regadas por lágrimas
Contemplam-me, tristes, por todos os lados.
Imagens que se fundem, formando um surrealismo melancólico,
Penas de anjos, gemidos de almas, capins rastejantes,
Órfãos que, insistentes, tentam acender velas
E encontram, por obstáculo, o vento soberano e uivante.
Edgard Allan Poe, com seu corvo no ombro,
Escreve um poema, cabisbaixo e concentrado,
Rezes caladas e curiosas observam este caminhante
Que bêbado, cambaleante, passa desgovernado.
07/11/1999