A POESIA QUE RESISTE AOS NOVOS TEMPOS

A poesia ouve o murmúrio da cidade

Um lamento de longe, de fuligem

Tempos de rara estiagem

E ouve o maquinário a berrar o canto em todo canto o avanço das ondas que não são do mar, mas magnéticas e sinais e antenas e o texto que fere o verso inteiro e não quer saber de rima e cria o seu próprio ritmo na velocidade dos carros e na avenida o calor do asfalto e o calor do dia e a frieza das pessoas o som metálico das engrenagens e dos corações e a nuvem de sujeira e umidade...

A poesia tenta resistir

E mais um verso combatente

Cambaleia no campo no ir e vir

Mas o cortar das máquinas produz barulho maior que o canto e a cidade engole poetas e sonhos e suspiros e muito mais e os prédios e a explosão dos aviões nas Torres Gêmeas e o descrédito e o susto e o grito de barbárie o que é comum entre os homens de pouca fé e pouca vontade ou vontade nenhuma...

Uma mão que sustenta a palavra

É a lavra e lavra o resto de amor

E rima pouco, mesmo com dor

A prosa, no entanto, atropela e passa por cima e por todos e passa e arrasta outros tempos e a memória e quer dizer parágrafos inteiros e margens sufocam o eu-lírico, como um barco dentro de um rio...

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Palavrapalavrapalavrapoemadramadopoetapósmodernidadejunta tudoagora

Tudo ao mesmo tempo agora

Os versos já não se veem entre as linhas dispostas, contudo, o espírito poético persiste e subverte as regras impostas e joga palavra contra palavra num jogo em que a palavra já não basta e o som se faz e se refaz com menina e rapaz e tanto faz e quer e mais e outras mais e faz com blocos inteiros e cinzeiros e tinteiros e unguentos e momentos sem tempo e sem tempos a prosa marca, regula, delimita, mas a poesia, dentro das grades, desmarca, desregula, faz fita...

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 09/11/2011
Código do texto: T3327091
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