Será verdade que nós morremos?

Será verdade que você morreu?

Eu te vi passar ainda agora,

Senti o cheiro de uma cor enrugada,

Tive um calor bem fora de hora.

Será verdade que você morreu?

A tua voz esquecida nada justifica,

Pois nunca a ouvi, ainda que em grito,

Enquanto teus pensamentos ainda ficam.

Será verdade que você morreu?

Os boatos e artifícios podem durar diabos,

O exato passa como se fosse um barco

Tão nada que nem nada nem sequer afunda.

Será verdade que eu morri?

Ainda sinto câimbras e ereções,

Tenho místicas paisagens

Latejando em mim,

Agonizo alegre certas sensações.

Será verdade que eu morri?

Acredito em algo e no poder da água,

Seja ela benta, poluída ou lágrima,

Não sei se respiro,

Mas sei que me engasgo.

Será verdade que eu morri?

Pele, osso, banha,

Mas com ilusão de alma,

Quando toco em mim

Sinto que sou vento e tábua,

Mágoa, raiva,

Roma ao contrário.

É verdade, você morreu!

Faz tempo e o tempo não

Muda nada,

A morte permanece sendo

Coisa duvidosa,

A memória continua

Numa caixa.

É verdade, você morreu!

Sem cheiro, som, cantiga,

Mas com faca cravada,

A vida se atola

No barro da estrada

Cansada,

O futuro é vesgo, preso,

O mesmo

Que sempre era promessa.

É verdade, não morri!

Junho/ 2010

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 24/10/2011
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