Será verdade que nós morremos?
Será verdade que você morreu?
Eu te vi passar ainda agora,
Senti o cheiro de uma cor enrugada,
Tive um calor bem fora de hora.
Será verdade que você morreu?
A tua voz esquecida nada justifica,
Pois nunca a ouvi, ainda que em grito,
Enquanto teus pensamentos ainda ficam.
Será verdade que você morreu?
Os boatos e artifícios podem durar diabos,
O exato passa como se fosse um barco
Tão nada que nem nada nem sequer afunda.
Será verdade que eu morri?
Ainda sinto câimbras e ereções,
Tenho místicas paisagens
Latejando em mim,
Agonizo alegre certas sensações.
Será verdade que eu morri?
Acredito em algo e no poder da água,
Seja ela benta, poluída ou lágrima,
Não sei se respiro,
Mas sei que me engasgo.
Será verdade que eu morri?
Pele, osso, banha,
Mas com ilusão de alma,
Quando toco em mim
Sinto que sou vento e tábua,
Mágoa, raiva,
Roma ao contrário.
É verdade, você morreu!
Faz tempo e o tempo não
Muda nada,
A morte permanece sendo
Coisa duvidosa,
A memória continua
Numa caixa.
É verdade, você morreu!
Sem cheiro, som, cantiga,
Mas com faca cravada,
A vida se atola
No barro da estrada
Cansada,
O futuro é vesgo, preso,
O mesmo
Que sempre era promessa.
É verdade, não morri!
Junho/ 2010