A CEIA DO SILÊNCIO E RAIVA
A CEIA DO SILÊNCIO E RAIVA
SOBRE A MESA FEITA DE TÁBUAS VAZIAS,
NÃO HÁ TABUS NEM SEQUER LÁGRIMAS!
A INQUIETUDE CRESCE FORTE NAS AZIAS
DE FOME SOBRE O PRATO DE BARRO CRU,
ASPERGIDO DE UM SONHO ROTO E NU,
PERTO DA LAREIRA APAGADA DE ALEGRIAS!
SÃO OLHARES, SIMPLES OLHARES E LÁGRIMAS,
ESCONDIDAS NOS PEITOS COMO AZIAGAS POESIAS!
NÃO HÁ GESTOS NAQUELA GENTE
QUE GRETOU O CORAÇÃO NA TERRA CRUA,
AGARRADO AO SOL DO ORIENTE
QUE LEVA A CASAR COM O SUOR NA LUA!
ESTALAM OS DEDOS E RANGEM OS DENTES,
HÁ MEDO DA RAIVA E RAIVA DO MEDO,
DESPREZO PELO DESPREZO, DESEJOS DISTANTES,
EMBEBIDOS NO COPO ONDE O VINHO É SEGREDO
PARA ESQUECER O QUE LA FORA CHEIRA À RUA!
A MESA FRIA É TEMPLO DE UNIÃO,
POÇO DE MESTRES, CAVALGADA SELVAGEM,
ONDE NÃO HÁ MAIS DO QUE O CORAÇÃO
BATENDO APRESSADO MAS QUASE SEM CORAGEM!
É ARA SEM OFERENDA, SEM CORDEIRO P’RA IMOLAR,
PALCO DE TEATRO DE UMA PEÇA OCA,
ONDE O GRITO FOI FEITO PARA SE CALAR
À VOLTA DE UMA MESA ONDE A GENTE PARECE LOUCA!
A CRIANÇA, NA INOCÊNCIA,
AINDA SORRI SEM PERCEBER
O QUE É O CASTIGO SEM CLEMÊNCIA
DE NADA TER PARA COMER!
ENQUANTO NA CANDEIA HÁ CHAMA
NO PAVIO DO ULTIMO AZEITE DE DOR,
Á VOLTA DA MESA O POVO CLAMA
DIREITOS DE PAZ, SOLIDARIEDADE E AMOR!
ENTRETANTO O REINO SE AGITA
NA SUGÂNCIA DOS REIS QUE O HABITAM,
NAQUELE LUGAR A ALMA GRITA
AS MÃOS TREMEM, OS OLHOS BRILHAM,
INCONFORMADOS, VIGILANTES,
DE TÃO VERMELHOS, CASTIGADOS,
MAS NÃO MORIBUNDOS DERROTADOS!
MAS CUIDADO, ELES SÃO POETAS,
QUE ENTRE VERSOS FAZEM ENSEJO
DE ACORDAR NA FORÇA DAS COISAS CONCRETAS,
NA LUTA IMPARAVEL DE TER UM DESEJO!
SOBRE A MESA FEITA DE TABUAS FAZIAS,
TOCAM OS DEDOS UMA MÚSICA ESTRANHA,
ONDE HÁ RAIVA E ESPERANÇA, SEM ALEGORIAS,
TISNADA DE FRIO VENTO QUE O CORPO ENTRANHA!
E NA RUA CHOVE, GOTEJA O TELHADO,
CREPITA O ÚLTIMO FOGO NO LAR,
ENQUANTO O OLHAR SE CRUZA SEM ALEGRIAS
EM TORNO DA MESA DE TABUAS VAZIAS!
José Domingos