" PARODIANDO DRUMMOND:: CONFIDÊNCIAS DO MOCOQUENSE"
Muitos anos vivi em Mococa,
principalmente nasci em Mococa
na Rua Coronel Diogo, 1737.
Por isso vive dentro de mim
uma inquietação carregada de mistério,
esta saudade da cidade pacata,
das casas de portas abertas, de ruas largas,
das pessoas acomodadas, mas reticentes.
Deus me deu esta cidade para nascer,
assim tenho por ela uma saudade
que lembra a casa de meu avô
que fez a casa com suor e tijolo por tijolo,
com as próprias mãos na Revolução de 1932.
Quando o repreendiam por trabalhar
em plena batalha, ele respondia:
"Io sonno italiano". "Mio Nonno Ferdinando Manini...!
Depois de pronta, enfeitou a casa com mangueiras,
jabuticabeiras e mamoeiros. A mesa comprida,
tinha lugar para todos, grandes e pequenos!
Ao anoitecer a "nonna" preparava o chá para ser tomado
com pão com manteiga que ela servia com olhos
sempre marejados. Tenho saudade do licor de jabiticabas.
Deram guarida a filhos e filhas, netos, netas, sobrinhos,
até parentes distantes, depois o "nonno" espremeu a uva,
fez o vinho, ou era o sangue que tirou das veias
para transformá-lo em aconchegos concretos.
Hoje lembro-me da casa e rememoro lembranças
e a faço mito, mistério da visão extasiada,
e finalmente aprendi com meus avós, que amar
é cuidar e possivelmente calar na dor, enternecer
é passear pelo peito como anjos que amam.