E AINDA JOSÉ
José, José...
O poeta disse que José não há mais
E então, José?
A palavra dura e seca
O resto de comida na mesa
O sinal vermelho
A palavra PARE!
O gesto negativo com a cabeça
A navalha
O trânsito
O óxido e o monóxido de carbono
A palavra NÃO!
As notícias do jornal
A corrupção
O gol perdido
O amor perdido
O poema inacabado
José, José...
O poeta disse que José não há mais
E então, José?
Não há mais Minas
Tampouco o Amazonas ou o Pará
Não há São Paulo nem a garoa
Nem o Rio ou Copacabana
Nem mês ou dia ou a semana
Fronteiras expostas
Linhas apagadas
Mas há letras várias e poderosas
Há UPP´S e UPAS e IPI
ICMS, IPVA, IPTU, tarifas e taxas
Números e números sem fim
A palavra MISÉRIA!
O mesmo retirante de mesma morte severina
Que atropela a fome e a sina
Que tem quatro ou cinco filhos
Todos de mesmo nome
Todos de mesmo destino
A palavra MEDO!
Mas a palavra insiste
A palavra sangra
A palavra é dura e seca e corta
A palavra mata
E prossegue no seu caminho de desorientar homens
O mundo?
Vário e desnudo
Assiste a todos e tudo
Boquiaberto
A palavra anda
A palavra desanda
A palavra rasteja
E respira e goteja
A palavra raspa e rasga
E prossegue no seu caminho de retalhar homens
E você José?
É uma palavra entre tantas outras...
Um substantivo próprio
Mas já sem uso
Tornando-se comum
Na multidão dos seres