"EXERCÍCIO POÉTICO I SOBRE FERNANDO PESSOA"
Calmo,
no luar lá fora da noite calma
o vento agita coisas
que fazem sombra se mexer.
Não é senão, a roupa talvez,
que deixaram estendida
no andar mais alto,
mas a sombra em si,
não conhece camisas
e flutua num acordo mudo
com todas as coisas.
Um luar está para além das sombras de meu quarto,
existe, como um dia de prata
e os telhados são líquidos de brancura enegrecida.
Há uma paz triste na luz dura da lua.
É um tédio tornado sombra branca
a escurecer como se olhos se fechassem
sobre essa indistinta brancura
pousada em meus olhos.
Vi a lua desaparecer;
um repouso fundo da respiração da alma,
com grande alívio.
O que poderia ser apenas sonho,
em voz baixa me disse a escuridão
que o luar poderia estar presente
por um pouco mais.