O mito da caverna
Quem nesta penumbra fria sois vós?
Que me vislumbras em mistério os olhos,
Que me tomas por vezes em molhos,
E me acalantas outrora em branda voz?
Quem neste plano insólito somos nós?
Sabeis as respostas da minha agonia,
Pois sois origem, sois vós harmonia,
E fazei-me quimera num tempo atroz.
Sois vós o que sinto ou sois o que vejo?
Fazei-me sabedor da absoluta verdade,
Dizei-me dos bichos, plantas, da variedade.
Tirai-me a ignorância que percebo no ensejo.
Dizei-me a razão da nossa razão,
Que por tanto sabê-la sei não saber,
E agora me resta um profundo querer,
Na tez da verdade pousar minha mão.
Dizei-me tudo senhor, dizei-me então,
Que a doutrina inculta exauriu-se no mar.
Dizei-me o caminho que já vou te buscar,
Que sois vós da caverna, a saída, o clarão.