O aniversariante
Em breve completarei três décadas de existência.
(“A frase acima já me faz sentir datado”)
Ah, eu sempre pergunto onde vão parar minhas exclamações.
Sempre ponho reticências nas minhas perguntas.
A nós, curiosos, o futuro pertence;
O passado e o presente, intempestivamente, caminham conosco.
O tempo é alguma coisa entre o sonho, a lembrança e a vida
E eu acordo com o impulso da guerra, da carícia e do penhasco.
Luto para não sentir nos braços o peso dos dias;
(“Os dias param para que eu pense ou desista”)
E eu adormeço com a certeza da próxima beleza
E acordo com a fotografia da saudade e do horizonte.
Em breve completarei três décadas de existência,
Aplausos para minha persistência e minha glória;
Enquanto respiro e vivo, outros me criticam
E outros, ainda, morrem ou apenas, felizes, agonizam.
A nós, indecisos, o futuro pertence;
A direita e a esquerda são mais do que escolhas,
Mas se você me disser que não, eu entendo,
E então sigo contigo, bebendo um trago e discutindo.
Luto para não ser um rascunho humano,
Tipo aqueles que formam a suposta realidade,
Que criticam os filhos dos outros (os culpados de todas as gerações)
Todos os indivíduos que não estão sentados na mesa.
Em breve completarei três décadas de existência;
Ainda sou um adolescente inventando a vida,
Ainda sou o guri subindo a ladeira com o pavor na goela,
Ainda sou aquele com a segunda-feira cravada no peito.