Vida Caipira!

Doutor nós somos da roça

gente que brinca e faz troça

da tal adversidade

mas tem coisa que te juro

que falam da gente nossa,

o pessoal da cidade,

que eu digo que é engano puro!

Aqui nóis leva a vidinha

cuidando duma rocinha

alguns porquinho e umas vacas

uns patos e umas galinha,

cachorro bom no terreiro

coça o saco o dia inteiro;

mais que de noite é valente,

vigia a nossa casinha

durante o sono da gente!

De tardinha já cansado

depois do banho tomado

c’uma chinela no pé

chêro de bóia quentinha

perfuma nossa cozinha,

prá entrá em cena, a muié!

Uma morena mimosa

que vem prá sala dengosa

pra mórdi ganhá uns xamêgo,

deixa a janta no fogão

traz minha viola na mão

na outra a rede e o pelêgo!

Daí nóis vai pra varanda

olhar estrela nascê,

num tôco eu fico sentado

ponteio e canto afinado

pra morde a morena vê!

De vez em quando a rainha,

que governa a vida minha

pula da rede e se afasta

dá uma olhada na cozinha

na volta traz a pinguinha

e aproveitando me abraça!

Doutor eu sô um caipira

dos que se laçado, estira,

me enforco mas não me entrego,

que canto pra minha prenda

mi’as poesia em oferenda

pra demonstra meu apego!

Depois da janta, um cafezinho

dedo de prosa e uns carinhos

-é a mió hora Doutô-

ela já olha pro quarto

e meu coração dá um salto,

(nosso amor é mais exato

que o tal do Computadô)!

Depois que ela fecha a porta

se vira e pra mim se volta

fico acanhado em contá,

que inté a lua no céu

usando as nuvem de véu

percura os zóio tampá!

É que ela nessa hora,

(juro por Nossa Senhora,

que se eu mentir se chateia),

igual chama de um lampião

é como fica o clarão,

nos seus zóio que alumeia!

E si tá frio, dá calor,

(pode jogá o cobertor,

que só seu corpo me aquece)

num tem perna que não tremi,

num tem macho que não gemi,

quando essa fêmea se despe.

Depois, doutor eu não conto,

não pense que eu so tonto

de conta essa intimidade

mas eu te digo uma coisa

é duas feras que se ataca

se arranha , morde se amassa

não é mais marido e esposa.

De madrugada é meu galo

e amanhecendo os canários

que abrem o peito cantando

e nóis já tamo de pé

o leite eu tomo fresquinho

misturado com os carinhos

dessa morena; e um café!

Depois seu dotô

eu vô sobindo o caminho

com minha enxada no ombro

pra cuidar da minha roça

pito um cigarro tranqüilo

canto mais feliz que um grilo

no sapé de uma paióça.

O sol vai queimando o couro,

suor molhando a camisa

o meu roçado é meu ouro

que a natureza agiliza;

e oiando pro carriadô

vejo a morena subindo

eita treim bao seu dotô

mais suave do que a brisa

a minha esposa querida

traz meu almoço sorrindo.

Depois é só esperar a tarde

quando o sol vai se deitar

e a noite vem se encostando

pra tomar o seu lugar;

eu cuido das criação

e agradeço Criadô

por toda sua bondade

(por meu pedaço de chão

a muié do coração)

e tanta felicidade!

JJ

JJ Braga Neto
Enviado por JJ Braga Neto em 09/09/2011
Reeditado em 10/09/2011
Código do texto: T3210710