Um apelo a Deus
Pai nosso que estais no céu,
Livre-nos da fome e da sede,
Da não higienização e da sujeira das ruas,
Da poluição e do consumismo,
Que exaura nossos bolsos,
E obriga-nos a sermos escravos dos poderosos,
Para termos alguns centavos,
E doarmos à Igreja,
E acharmos que Deus nos salvará,
Das doenças e dos microorganismos;
Livre nossas plantas das pestes e dos agrotóxicos,
Que consumimos quatro litros ao ano,
Livre as crianças do Vietnã de nascerem defeituosas em razão do Efeito Laranja;
Liberte as almas dos homens e mulheres que queimaram na fogueira e que são apedrejados,
Que tiveram suas cabeças decepadas,
Dos catorze bilhões de mortos em guerras,
Da lepra que manduca nossos rostos,
Da Aids que nos enfraquece e espalha-se para nossos filhos,
Do câncer que incha nossos órgãos,
Dos atropelamentos que despregam as almas de nossos corpos;
Livre os civis dos confrontos,
Livre a ressaca, o alcoolismo e vício no cigarro,
Para podermos descontrair fartamente uma vez ao menos nos bares,
Porque segunda o trabalho volta,
A loucura volta,
Os micróbios dos ônibus voltam para nossas mãos,
Os remédios voltam para impedir-nos da obsedidade,
Das doenças hereditárias e da feiura física,
Dos problemas psíquicos,
Gerados pelo bullying e desavenças familiares,
Não permita que bandidos arranquem nossos dentes e perfurem nossas barrigas por causa de míseras notas,
Canse-se de ser um imperador,
Livre-nos desses infelizes problemas,
Pois sabemos que tudo descansa em suas mãos;
E se o povo já é "feliz" com essas adversidades,
Imagine se anula-las...
Canse-se de ser venerado e de recolher dinheiro,
Canse-se de consentir tantos problemas na Terra,
E ainda permitir que queimemos no fogo do Inferno,
Por causa de um ato incorreto somente,
Pois os doidos não são responsáveis por seus feitos,
E como não ficar louco com todos esses problemas?
Ó Senhor, permita-nos admirar um pouco a natureza,
Antes que ela também esvaie-se;
Descative os homens da hipocrisia e da ignorância,
De irem para a Europa visitar fortes,
Onde tantos perderam as suas vidas,
E sustentar empresas e nobres,
Que terão palácios,
Ao passo que os africanos morrem esfomeados,
Como os judeus morreram de sede, espancados, cremados,
vítimas de experiências e disparos de fuzil, asfixiados,
eletrocutados e tendo suas famílias mortas igualmente;
Deus, livre-nos de ditadores e suas proibições perante a arte,
Da queima de livros, músicas, compositores e liberdade intelectual,
Não deixe que filósofos afirmem a Arte não ser absolutamente nada,
Pois desse jeito não sobrará meios de ser feliz,
E teremos de admitir as ideologias da televisão e da novela das oito,
Por favor, meu Senhor, se és tão poderoso, peço-lhe de joelhos,
No milho ou qualquer outro lugar que antepor,
Elimine os políticos e burgueses e não deixe que paguemos horas de suor,
Para andarmos num ônibus imundo, lotado, sem assentos e que
demora meia hora para chegar apenas no ponto;
Que os desafortunados vivam em meio ao lixo,
Que ingiram papel higiênico por não terem comida na mesa,
Que vivam em meio a favela e sejam vítimas de balas perdidas,
Que os pobres infelizes entrem no mundo das drogas e não passem dos trinta anos,
Pois não há espaço para educa-los e emprega-los,
Porque os robôs do século XXI já ocuparam,
Livre-nos da tristeza de uma mãe que perde um filho,
Que o manteve nove meses na barriga,
De sequestradores e pessoas que insistem em destruir o mundo,
Dos gases que nos asfixiam,
Do crescimento desenfreado da população,
Pois não adianta morarmos em outro planeta,
Visto que a inveja, ambição, ira e egoísmo são hereditários;
Senhor, excarcera-nos dessa prisão,
Que é um prédio em chamas,
Em que morremos sufocados e depois temos o corpo aniquilado,
Onde não temos direito nem a um funeral e um descanso em paz,
E acima de tudo ainda temos nossa sepultura roubada;
Pelo menos revogue a reencarnação,
Para que não passemos por tudo isso novamente;
Meu Senhor, é todo-poderoso e não precisa de blefar para conseguir dominar,
Não precisa deixar alguns perderem para outros ganharem,
Então liberte-nos da solidão, ódio, mentira e ambição.