O HOMEM DA TRETA
O HOMEM DA TRETA
Eis o homem da Treta!
Seguro de seu nariz,
Afirma o que não diz
Sem convicção concreta!
Sabe o tudo, o nada,
É gestor, almocreve
De mercancia leve,
Sabedor da estrada
Que, de bem feita, é má
Tal como são as gentes
Para si indif’rentes,
Estejam aqui, fiquem lá!
Comenta a notícia e o traje
Opina até sobre a fé
Dizendo o que não sabe se é
Elogio ou ultraje!
È bem posto, bem seguro,
Diz gostar de navegar
Por mares e rios a secar
Se de seus feitos há futuro!
Meticuloso, observante,
Até de politica sabe,
Mas, afinal, ele não sabe
Qual o rumo determinante!
O homem da treta é nervoso,
Com sorrisos à mistura,
Mas tem face dura
Parecendo ser generoso!
Admira-se no espelho,
Sacode o pó do punho,
Critica o frio de Junho,
Tem dó de si e não do velho,
Que passa trôpego à porta,
Curvado na sua enxada
Também já velha, curvada,
De tanto cavar na horta!
Sabe de rádio, televisão,
Computadores, economia,
Planeamento, filosofia
De Sócrates e de Platão,
Do cançonetista discreto,
E até da bailarina
Que é conhecida ou prima
Deste homem “tão modesto”!
No versejar é sabedor
Do estilo do poema
Mas, coitado, tenho pena
Que não recite os de amor!
Só ele, sim, é importante,
Neste mundo em movimento
Vive a seu próprio contento
Das gentes altivo e distante!
“Como vai, passou bem”?
Cumprimenta efusivo
Mas, contudo evasivo
Se o momento lhe convém!
E se alguém que se intrometa
Para com ele falar
Vai ouvi-lo a ripostar
Que afinal é tudo treta!
E quando a noite sugou o dia,
E as estrelas o céu povoam,
Os cabelos do senhor esfumam
Despenteados a galhardia!
De forma sauve, discreta,
Recolha a seus aposentos
Encanto com os sentimentos
Que o mundo é uma treta!
José Domingos
2011-08-26