Reedição: " A DAMA DA JANELA"
O seu mundo é a janela, em torno dela
o mundo parte sem parar. Não lhe falta
o sonho ao coração, nem ilusão à alma.
Veste a blusa de seda, penteia os cabelos,
pinta os lábios e sorri para quem passa.
Que sonhos ainda terá a dama da janela,
que de não ir nem vir, guarda a aparência
de os sonhos ainda os ter, e o não sabendo,
invento-lhe algum sentimento guardado
e que lhe baste, e a dama que de não ir
nem vir além da porta, recosta-se e sorri
com a fantasia de meus olhos de janela.
Quando chega a noite, ela ainda pede
um cheiro de jasmim com o brilho
do pó das estrelas que dançam na réstia
da lua que banha a esquina. Ela teme!
Como ela teme morrerem as flores da janela.
Com a ponta dos dedos desenha no suor
do vidro
um minúsculo coração trespassado por dardo
solitário.
O raio de luz da lua vem alvo e acorda suas lágrimas
e todo o pó de sua alma. A lua rotunda embriaga
com o doce aroma das flores orvalhadas. E assim
permanece a dama postada atrás da vidraça
desenhada, a bailar a sua doce alma na solidão
da janela.