" MEMORIAL DE CARMELA" (Carmela: o "alter ego" de Adélia Prado.)

Carmela menina magra, vivia de teimosa,

criança é sempre criança, tem fome

de transcendência: improvisa, pinta, desmonta,

vira do avesso. O céu tem que ser

como o quintal de sua casa: com ribeirão, horta,

o balanço do abacateiro, o gato ladrão,

o sabiá da romãzeira, sem dispensar o sapo amarelo.

Brinquedos? Só os de ferro feitos pelo seu pai,

eles duram toda a vida...

Infância tem sempre a porta aberta,

para falar com as núvens, com os passarinhos.

A casa da família é pequena e pobre,

cruz que se carrega com devoção!

Ninguém repara em Carmela, que chora

quando as flores murcham.

Ah! Carmela! Da roseira vai brotar um carmim intenso,

virá com perfume de setembro na primavera

e Adélia chegará! Os cinamomos continuarão

floridos em seu postigo, e de sua alma vai brotar

A vida! A vida! A vida!, só porque

retornará um setembro na primavera!

permiano colodi
Enviado por permiano colodi em 20/07/2011
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