VIDAS SEM HORIZONTES
VIDAS SEM HORIZONTES
La vem o João do engenho,
Com as canelas de fora,
La vai o João do engenho,
Conversar com a senhora.
João do engenho é calado,
Escuta o que sinhá fala,
Ouve, porém não conversa,
Mesmo quando na senzala.
Velho Chico ao conversar,
Diz-se: no canavial sumiu,
João do engenho não fala,
Ouve, e diz que não ouviu.
De manhã, João bota água,
Nos potes da casa grande,
Pra banhar sinhá na tina,
No quarto onde se esconde.
Leva a lambuja aos porcos,
Saco de milho aos cavalos,
Ração aos patos e gansos,
Xerém pros perus e galos.
Finda o serviço da manhã,
Quando à tarde se avizinha,
Chama-o alto, sinhá moça,
Grita a sinhá lá da cozinha.
No engenho ver-se o João,
Pernas longas, braços finos,
Cansado e lombo desnudo,
No vem e vai, vai servindo.
Na vida tem dessas coisas:
Nascer sem manto e berço,
O sol seca a pele e os olhos,
Termina pagando um preço.
Se a conversa não lhe cabe,
É bom não fazer empenho,
Mesmo o Chico indo pro céu,
Melhor ser João no engenho.
Rio, 11/07/2011
Feitosa dos Santos