quentes demais
Minhas lagrimas são quentes
Saem de meus olhos a milhares de graus de temperatura...
Não caem logo se evaporam
E na minha alma se impregna uma eterna tortura...
Eu não sei chorar
A dor é demais, não gera berros, mais silêncios profundos
Você não me conhece
Mas é provável que se conhecesse
Ficaria triste de saber que há alguém
Que carregue uma dor assim neste mundo...
Por isso
Não queira me conhecer
É impossível
E toda vez que meu próprio ser me ver
Num plano d’água, num espelho caqueado qualquer
A imagem é sempre de me estremecer
Por que eu olho e observo o ser do outro lado
Indagando-me de como tem passado e chegado até aqui
Porque não desistiu ainda
E sem resposta
Viro-me, e dou mais uns passos, sem dizer nada,
Pensante, sempre calado...
E sabe o que acontece enquanto caminho por aí no mundo?
Às vezes tenho um desejo profundo
De ter companhia
Alguém para conversar
Mas minha idiossincrasia parece espantar e afastar as pessoas
Pessoas boas
E eu as compreendo de não terem paciência,
Vivência, entendimento, para dialogar
Eu me canso
Mas não demora muito, já pego a estrada
E quando tenho sorte
Depois de sol e poeira
Encontro-me à beira
De um lago,
Um aqui outro acolá,
Ou de um rio mais calmo
E então eu posso me notar
Eu posso dialogar
Em silencio, sim em silencio...
Um diálogo que gostaria de poder te contar
Entre mim e eu
Um aqui e outro lá na água a me olhar
Sem falar nada
Mas com certeza a me decifrar,
A me enigmar...
A confiar em mim
E a nunca me condenar...