" PARTO "
Nessa hora é que te conheço;
antes, era só um nome de chamar.
Mas nessa hora que te conheço,
não a imaginava assim: terrena,
feita de carne a escoar-se em água
e sangue, líquida, lacrimosa e dorida,
que traz de dentro de si mesma
a luz pelo portal da sombra,a alma
vestida de branco,
no entanto, te entregas à tua hora
terrena de fêmea. Nunca te conheci
como agora que vais, ante o terror
da passagem em valentia sem nome,
flexa do aroma de estranhas plagas
num caminho soluçante desta hora
de agonia, angélico estupor nos limites
de um jardim.
E eu, preexistente, tenho-te a ti liberta,
entregue a tuas águas.