adeus para você
Eu tenho saudades
da nossa cumplicidade
e dos risos
que tínhamos escondidos,
só para nós...
agora essa poeira
em nossos olhos
evitando que vejamos
como realmente somos,
tornando basso o espelho,
todos os espelhos
pelos quais nos comunicamos....
eu tenho saudades
da nossa ingenuidade,
de nossa facilidade de acreditar
em qualquer coisa,
em qualquer sonho...
Esta estrada tem levado muito de nós,
deve ter ficado por aí
a admirar em qualquer espelho
parte de nós uma parte de nós,
e aqui quedamos ainda andando,
mas já esclarecidos
de que a metamorfose dos sonhos
tem uma força pujante
que não acompanha a nós,
ao nosso corpo,
a nossos olhos embaçados
de não ver
o que necessita nosso sentimento,
nossa necessidade mais desesperada...
Eu tenho saudades
de um tempo indefinido
nunca nascido
para sempre perdido
no emaranhado de uma coisa imprecisa,
como que uma lembrança viva e morta,
que está ao mesmo tempo longe da gente,
mas sempre a bater em nossa porta...
Um rio leva, ao mirar-me nele,
tua imagem constantemente,
e dessa forma também vai se esvaindo
minha vontade de resistir, de persistir
ainda um pouco mais
neste caminho de poeira no olhar,
e o desejo que tenho é de também
me deixar levar,
e ser apenas uma Saudade,
uma coisa que ninguém pode ter,
nem de mim tirar...
Ser um ser como você,
que não existe,
mas que aparece em qualquer lugar
onde haja uma superfície
na qual possa te materializar
a partir da vontade do meu olhar...
Mas se eu for igual a ti
melhor será
porque da Terra terá se ido o desejo,
presente fracamente em mim,
de te apreciar...
Eu tenho saudades
da nossa cumplicidade,
de um tempo
em que a gente não estranhava
em se ver,
hoje o que eu sinto
é de uma triste estranheza
que não sei descrever,
mas de qualquer
forma, que não seja isso um tchau,
mas adeus para você...