CANTO DE TRABALHO
 

Quanto de mim
É pedaço deste chão?
Rastro, fé, revolução
Deixo em tudo que plantei.
Nos sete palmos
Semeei minha morada
Terra fértil cultivada
Com os sonhos que adubei.
 

Só que esta enxada
Diz tão pouco do que eu sou
Como, da ave que voou,
Diz tão pouco o seu ninho.
É no que colho
Que sou grande como um rei
- nas terras que eu cultivei
fiz o meu próprio caminho.
 

Quanto de mim
É pedaço deste mundo?
- vento, luz e um céu profundo,
sangue, trabalho e suor.
Sou como o pasto,
Vivo mesmo na estiagem,
Parte de uma só paisagem
Que já conheço de cor.
 

Só que estes versos
Falam pouco do que penso
Sobre este pedaço imenso
Da vida que já colhi.
Não sou poeta
Nem canto feito um canário,
Mas meu lamento é o salário
Das colheitas que vivi.