Fera.
A noite pariu a lua,
tão branca, tão luz, tão nua...
E a claridade da rua
é fria, deserta, e langue.
O ar denso cheira à sangue...
O próprio escuro recua!
Até o escuro tem medo
daquele mortal segredo
que se esvai, vil e alpedo,
quando a hora zero soa:
é hora da besta à-toa,
é hora do engano ledo.
Mãos trêmulas e hesitantes...
O suor, peito ofegante,
Uma vida num instante!
O corpo, que se transforma,
da física burla as normas
e renasce, apavorante!
Vai no frio da madrugada
a buscar desavisadas
criaturas desgraçadas...
Eis que tudo se consome,
Misturando lobo e homem
em alma amaldiçoada.