COMPUTADORAMENTE

A estréia será com a minha primeira poesia, o olhar de uma jovem de 15 anos diante de um mundo novo que se descortinava. Em homenagem aos inesquecíveis Professor Evilton Melo e Clóvis Ramos.

COMPUTADORAMENTE

Iran de Maria

(1974)

Máquinas, motores,

Fitas magnéticas, computadores.

Ano 2000 da telecomunicação sideral

de fitas, de máquinas em geral

Sua vida será movida por botões,

por máquinas, sua vida será turbilhões.

Turbilhões de fitas, de coisas pré-fabricadas.

Suas esposas, estas já estarão computadas

E seus filhos serão resultados de “N” combinações.

Você será o homem-máquina resultado de suas invenções.

Você não rirá nem mais um dia,

por falta de tempo, de razão, por covardia.

Você andará, você comerá, você trabalhará maquinalmente,

porque tudo será controlado computadoramente.

Máquinas, motores,

Fitas magnéticas, computadores.

Para o alto as coisas belas,

que só serão vistas em telas.

Para o alto a natureza, a felicidade,

tudo será estudado, computado na maior facilidade.

E então você não verá mais a mãe gestante,

pois seu filho será gerado num instante.

Seu nariz não está bem? Seu fígado sofre dores?

Leve-os aos computadores.

E o amor? ... Ah! O amor!

Este estará resumido nas fitas, nos botões,

nos fatos históricos do amor passado

vivido por bobalhões.

Ah! Meu Deus nos faça um favor,

não deixe chegar o ano 2000

se nele não houver amor.

Máquinas, motores,

Fitas magnéticas, computadores.

Homens-máquinas, sem amor na sua jornada,

Homens-caos, homens-pó, homens-nada.