"MISE EN ABIME" (Sturm und drang) *1
As lágrimas que choro
são as lembranças cativas da memória
que emergem das fotografias de álbuns antigos,
dos ais da vida e da distância.
Emergem do fulgor dos olhos
que as iluminam.Reprimidas na cor,
renascem as fotografias que repelem
o olhar que num espelho
fazem-nas emudecer.
Mas estão vivas na memória,
as imagens relembradas em cantigas,
ralhares, em tramas de pensamentos,
emconfidências a meia voz,onde tudo recomeça
e se fará um dia imagem relembrada
de fotografias de álbuns antigos.
Vou para o raptodas coisas tão finitas,das imagens
esvanecidas pelo distanciar do tempo, Revejo
os móveis antigos que guardam as fotografias
que estão desbotadas e das quais ninguém se lembra.
Lembramo-nos das varandas de samambaias,
das gluccíneas e doa acalantos e hoje, os corredores
estão vazíos, atapetados ontem para abafar os passos
dasqueles que por alí passaram à luz de tanto dia!
Perguntas-me de quem eram aqueles passos.
Respondo não saber, talvez fossem os passos de nós mesmos
ou os passos de outras pessoas, de outros tempos
que tinham a ilusão de eternidade.
Então eu fecho os olhos e penso na última rosa
que ainda permanece viva em seu regaço.
*1 "Posto em abismo" Metáfora das bonecas ucranianas. Sintagma ao estilo de André Gide(espelhos paralelos)
Texto inspirado em "O ano passado em Marienbad" -filme diridido por Alan Resnais que representa a obra prima da "Nouvelle Vague", baseado no estilo "Nouveau Roman" (romance novo)- romance dos objetos, da monotonia e da repetição.(Ano de 1956)