A Anciã.
O tempo riscou no rosto
as marcas de tanto agosto
que o frio do inverno semeia...
E o branco da cabeleira,
hospedagem derradeira
de incontáveis luas cheias.
O corpo, já arquejado,
cansou-se por tanto andar;
e a placidez do olhar
veio junto com a idade,
ao passo em que a vaidade
vai sendo posta de lado.
As mãos, magras e esguias,
apertaram muitas dores,
segurando os dissabores
das perdas e desenganos...
Na maciez da cada plano
um malgrado triste havia.
Primeiro, a filha mais moça...
Depois, o filho do meio.
A tal peste, p'ra que veio?
Ceifar almas sem piedade...
Na mais tenra das idades,
a mais preciosa das louças!
Acaba-se assim, então,
aquela história sem sorte...
E agora, ares da morte
chegaram enfim p'ra ela...
Flor antiga, murcha e bela,
No jardim da solidão.