A Anciã.

O tempo riscou no rosto

as marcas de tanto agosto

que o frio do inverno semeia...

E o branco da cabeleira,

hospedagem derradeira

de incontáveis luas cheias.

O corpo, já arquejado,

cansou-se por tanto andar;

e a placidez do olhar

veio junto com a idade,

ao passo em que a vaidade

vai sendo posta de lado.

As mãos, magras e esguias,

apertaram muitas dores,

segurando os dissabores

das perdas e desenganos...

Na maciez da cada plano

um malgrado triste havia.

Primeiro, a filha mais moça...

Depois, o filho do meio.

A tal peste, p'ra que veio?

Ceifar almas sem piedade...

Na mais tenra das idades,

a mais preciosa das louças!

Acaba-se assim, então,

aquela história sem sorte...

E agora, ares da morte

chegaram enfim p'ra ela...

Flor antiga, murcha e bela,

No jardim da solidão.

Lola Viki
Enviado por Lola Viki em 22/05/2011
Código do texto: T2986523
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