DESCOBERTAS ou INSÔNIA NUMA CIDADE ESTRANGEIRA
Hoje descobri que o tempo
é capaz de mudar uma cidade;
de transportar para muito longe
o espírito de suas ruas e lugares,
antes alegres e acolhedores.
Hoje, também, descobri que o tempo
pouca muda as pessoas,
seus quereres e sentimentos
mais profundamente enraizados;
ao contrário, ele - o tempo, apenas os disfarça,
feito tinta fraca numa parede antiga,
que a chuva vem, lava e, rapidamente,
revela a verdadeira cor que se ocultava.
Hoje eu sei, depois de assistir à ansiedade
e a ilusão se dissolverem na madrugada fria,
que somos nós mesmos que moldamos tempo,
imprimindo-lhe, no rosto, suas diversas faces;
e, em seu corpo, inúmeros caminhos,
alguns, íngremes e escarpados.
Hoje confesso que não sei,
- após a insônia da noite imaginada,
nessa cidade ausente do mar, -
o que fazer da mala de viagem
repleta de tantos sonhos,
mas que, em algum canto terei de largar.
Hoje eu sei, algo que sempre deveria ter sabido:
Da impossibilidade de encontrar um porto
no alto de inóspitas montanhas.
- por JL Semeador, numa cidade estrangeira, na madrugada de de 12 de setembro de 2010