APOLOGIA DE NIETZSCHE
APOLOGIA DE NIETZSCHE
Eis que sou poeta, e não filósofo;
Um ser exposto, frágil e vulnerável;
Altivo, é certo, e pleno de palavras,
Couraças dos bravios corações;
Tudo, então, é emoção e sentimento;
Eis que faço trovas e canções.
Escrevo o que é próprio de mim mesmo;
Espalho sortes enquanto faço versos;
As minhas rimas precisam de ar puro,
Porque sufocam em meus livros diversos,
Alguns deles, há muito já não lidos,
E dentre esses, os meus preferidos.
Sei que os poetas troçam dos humanos
E dizem coisas que apunhalam sentimentos;
Pior de tudo: ainda falam mal dos deuses,
Para, em seguida, fingirem arrependimentos.
Por isso peço que perdoem muitas vezes
Por uns versos que me sopram como ventos.
Teria sido eu o próprio engano,
Enganando-me que sou como os poetas?
Ou há suspeita, mais do que suponho,
De que os filósofos sejam também profetas,
Misto de mim, vidente e sonhador,
Um louco extemporâneo, como sou?