A vida... E a rinha
JUL/73
N o fundo, no fundo, para mim
A vida tem sido uma eterna luta
Mal nascido, frango ainda...
Fizeram-me um galo e colocaram na rinha...
Aqueles que julgara conhecer estavam agora,
Sentados, comodamente, nas arquibancadas...
Espectadores atentos aos meus gritos
Testemunhando e rindo do meu sofrimento...
Se deles pudesse esperar qualquer coisa
Que se assemelhasse a calor humano,
A murada rebatia e, lá no meio nada chegava...
A não ser o som uníssono das risadas!...
E eu, galo mirrado, sem esporas sem traquejo
Mais uma vez me batia com o galo favorito
Dono de muitos troféus, vencedor de muitas lutas...
Aquele galo gigante que todos chamam destino
Meu despreparo notório de galo quase menino
Nunca me levaria à vitória era lutar E morrer...
E vinha o galo gigante com golpes,
Todos certeiros contra meu corpo franzino
Que a recebê-los tombava... Quase indefeso...
E ele, de esporada em esporada, preciso,
Vazou-me, primeiro, o olho esquerdo
Pois lhe convinha que eu visse com o direito
Como vibrava a platéia dos que julguei companheiros.
Com mais um golpe, aquele galo gigante,
Agora rompeu meu peito onde o coração pulsava
Na febre qu’inda restava da minha mais recente
E, infelizmente, definitiva paixão...
E repente, outra estocada... Um desmaio...
E um profundo silêncio, pois meu corpo,
Moribundo, mais uma vez foi ao chão!...
Quando me senti desperto,
Em meio aquele silêncio, imaginei
Ter sido feita a contagem regressiva
E ele galhardamente proferido vencedor...
Que grande decepção!... Fora apenas o intervalo
Que existe entre um e outro "round"!...
Outro "round”... Dezenas de golpes precisos
E outros, se a tantos resistir, por certo
Sobre meu corpo mirrado, minha mente esfacelada,
Ainda me hão de vir á. A inconsciência me toma...
O desespero me acena... A morte, sim, a morte
Só ela será descanso, para meu corpo já morto
Meu Deus!... Meu Deus!... Pra que estou nesta rinha?
Se, por tão pouco, preciso tanto lutar,
Por que me Destes esta vida? Ou então,
Por que me negas as armas com que lutar?
Se o destino vem mesmo traçado, antes a gente nascer,
Não é coisa sequer hereditária é esta coisa arbitrária
Que faz da gente o que quer? Por que meu Deus?...
Por quê? Não me fizestes, pelo menos, como minha mãe,
Capaz de resignar-se a tudo.
Desta insensata e improfícua luta? ...
Quando meu Deus, sob a fria tumba,
Tu me farás descansar deste fardo
Tão pesado de estrume... Escarro...
Papel usado... E coisas sem serventia?
Que o destino me vença
Antes que eu me convença
De que não vale à pena lutar...
E por mim mesmo eu ponha
Um fim nesta tristonha,
Comedia que a lugar
Nenhum me leva e nem . '
Aqui mesmo me convém
Ficar ou deixar de estar!...
JUL/73
N o fundo, no fundo, para mim
A vida tem sido uma eterna luta
Mal nascido, frango ainda...
Fizeram-me um galo e colocaram na rinha...
Aqueles que julgara conhecer estavam agora,
Sentados, comodamente, nas arquibancadas...
Espectadores atentos aos meus gritos
Testemunhando e rindo do meu sofrimento...
Se deles pudesse esperar qualquer coisa
Que se assemelhasse a calor humano,
A murada rebatia e, lá no meio nada chegava...
A não ser o som uníssono das risadas!...
E eu, galo mirrado, sem esporas sem traquejo
Mais uma vez me batia com o galo favorito
Dono de muitos troféus, vencedor de muitas lutas...
Aquele galo gigante que todos chamam destino
Meu despreparo notório de galo quase menino
Nunca me levaria à vitória era lutar E morrer...
E vinha o galo gigante com golpes,
Todos certeiros contra meu corpo franzino
Que a recebê-los tombava... Quase indefeso...
E ele, de esporada em esporada, preciso,
Vazou-me, primeiro, o olho esquerdo
Pois lhe convinha que eu visse com o direito
Como vibrava a platéia dos que julguei companheiros.
Com mais um golpe, aquele galo gigante,
Agora rompeu meu peito onde o coração pulsava
Na febre qu’inda restava da minha mais recente
E, infelizmente, definitiva paixão...
E repente, outra estocada... Um desmaio...
E um profundo silêncio, pois meu corpo,
Moribundo, mais uma vez foi ao chão!...
Quando me senti desperto,
Em meio aquele silêncio, imaginei
Ter sido feita a contagem regressiva
E ele galhardamente proferido vencedor...
Que grande decepção!... Fora apenas o intervalo
Que existe entre um e outro "round"!...
Outro "round”... Dezenas de golpes precisos
E outros, se a tantos resistir, por certo
Sobre meu corpo mirrado, minha mente esfacelada,
Ainda me hão de vir á. A inconsciência me toma...
O desespero me acena... A morte, sim, a morte
Só ela será descanso, para meu corpo já morto
Meu Deus!... Meu Deus!... Pra que estou nesta rinha?
Se, por tão pouco, preciso tanto lutar,
Por que me Destes esta vida? Ou então,
Por que me negas as armas com que lutar?
Se o destino vem mesmo traçado, antes a gente nascer,
Não é coisa sequer hereditária é esta coisa arbitrária
Que faz da gente o que quer? Por que meu Deus?...
Por quê? Não me fizestes, pelo menos, como minha mãe,
Capaz de resignar-se a tudo.
Desta insensata e improfícua luta? ...
Quando meu Deus, sob a fria tumba,
Tu me farás descansar deste fardo
Tão pesado de estrume... Escarro...
Papel usado... E coisas sem serventia?
Que o destino me vença
Antes que eu me convença
De que não vale à pena lutar...
E por mim mesmo eu ponha
Um fim nesta tristonha,
Comedia que a lugar
Nenhum me leva e nem . '
Aqui mesmo me convém
Ficar ou deixar de estar!...