A Ópera do Inferno.
I.
Em demente musical,
milhões de vozes nefastas.
Aberrante serenata
de tom grave e anormal.
II.
Num ritmo meio louco,
afogado e destorcido...
Num timbre débil e rouco
de ensurdecer aos ouvidos!
III.
O violao das Harpias,
os demônios, em coreto...
Horrorosa melodia
e o sino do Bode Preto!
IV.
As almas agonizantes
a expurgarem pecados,
assistem o horripilante
teatro dos desgraçados.
V.
E a Sinistra Criatura,
sentada em trono de horrores,
assiste a cruel tortura
que é imposta aos pecadores...
VI.
Quem antes foi aplaudido,
hoje é platéia infeliz...
Hoje é dama sem vestido
quem antes foi meretriz!
VII.
Quem antes foi realeza,
hoje é plebe desonrosa.
Hoje é alma tenebrosa
quem antes ditou beleza!
VIII.
E quem quiser dançar, dança...
A eternidade é a lenda.
Pois nesta Ópera horrenda
A orquestra nunca cansa!