" SANTA DO PAU ÔCO "
Olhei-a dentro dos olhos
como quem olha uma estrela,
como quem pede entrada:
"_Posso entrar?"
Ela responde:
"_O que ainda faz aí fora?
Depois, tapava os ouvidos
fingindo-se de surda,
fingindo-se de morta.
Depois subia nas árvores,
tinha um canteiro no peito,
fazia-se de anjo, podia voar.
Fingia-se de santa, mas era do pau ôco,
tudo de mentirinha, enganadora!
Eu a desejava assim mesmo,
incerta, mentirosa.
Vivia primavera e eu pedia:
"_Me dá um beijo?"
"_Eu prefiro as bonecas,
gosto mesmo é de pular corda."
"_O que você faz aqui fora?", respondi.
"_Vim ver os passarinhos."
"_ Mas não tem passarinho."
"Dou alpiste assim mesmo e vou embora."
E ia embora rebolando as anquinhas maduras.