" VISÃO DO PARAISO "
Primeiro a casa da infância,
depois a fome,
à ela estávamos acostumados.
A bilha d'água, o fogão de lenha,
o feijão com arroz e ovos fritos.
A chuva, o olho da criança na vidraça.
O pão dormido,
o milho, a réstia d'álho,
o jasmineiro no quintal.
O anjo atrás da porta
dorme distraído.
As roupas no varal,
o sol, a lua.
O balouçar das samambaias.
o papagaio no poleiro,
o ronronar do gato.
Os velhos conversam calmamente.
Debaixo da mesa a galinha carijó.
Alguém tão ternamente
me olha com arfar de seios fartos,
tão perfeitos de mulher amada!
Tudo tão certo, tudo tão exato!
O cuco marca as horas.
_Que horas são?
Ninguém responde, ninguém se importa.
Para onde foram todos?
Tive uma visão do paraiso?