O Meu Amor.
Só eu te compreendo os gestos
e a beleza, fantasmal...
Meu amor, querido afeto,
eis que a ti, não há igual!
Teus olhos, brilho não tem,
são estrelas nebulosas.
Dois abismos para o além,
jardins, despidos de rosas.
Feito a densa madrugada,
olhos negros, olhar triste...
Perquirindo sempre o nada,
silêncio que em ti existe.
Os lábios, sempre cerrados...
Quando dizem, dizem pouco.
O mais cruel dos teus fados,
e o meu desejo mais louco!
Teus lábios, de beijo ácido,
são deleite para os meus...
Que beijos frios e plácidos
eu bebo nos lábios teus!
Perco-me nos teus cabelos
ao enredar-lhes por gosto...
Escuro e liso novelo
escorrendo pelo rosto.
Fios mórbidos, agônicos...
Descendo até o pescoço.
Desenho tão desarmônico,
um apavorante esboço!
O corpo, hirto e esguio,
de palidez sepulcral...
Só de pensar, arrepio!
Ah, meu amante venal!
Tuas cismas e quimeras,
só eu compreendo, e fim!
Tens a densa atmosfera,
cercando-lhe a alma assim!
Meu arabesco consorte,
És impossível, um sonho!
És belo tal como a morte,
anjo sinistro e medonho!