"SAPATINHOS DE BEBÊ "
Durante algum tempo
a borboleta começou a roer unhas,
ter pesadelos, encantar-se com a boemia,
acalentar desejos amorais.
Queria um milagre!
Achava que só existir era muito pouco.
Imaginou-se grávida e começou
a tricotar sapatinhos de bebê,
tinha desejos de amor e idéias atravessadas.
Mas a borboleta foi ficando ranheta, prepotente,
orgulhosa, mandona, ninguém a suportava.
O vento de sempre soprava miúdo
e a borboleta pousava nos monturos
como fazem todas as borboletas,
mas nunca se lembrava da beleza de suas asas.
Num certo dia, desistiu de humanizar-se,
resolveu continuar como borboleta de monturos
com suas belas asas coloridas.