VAZIA.
Amor, amar, sentir, viver.
Gerúndio, futuro, presente.
A que mais vai sobreviver
a nobre dama, decadente?
Vestiram-na com baratilhos.
“É livre, liberdade pura!”
E os versos, bastardos filhos!
Transfiguraram-lhe a figura.
Eu vou rimar amor com dor,
ar com ar e ser com fazer.
E condor, conter, que horror!
A que mais vai sobreviver?
E vão bradar que são poetas!
Que a arte lhes brota da alma.
E a dama os chamará patetas,
Rirá deles e das suas palmas.
A dama chora, cala, canta.
Ama, odeia, desfalece.
Ulula blasfêmeas tantas
e ao mesmo tempo, preces!
Veste-se de sensualidade...
Ou noiva, ou Santa, ou meretriz.
Diz mentiras, diz verdades...
Diz e logo... Desdiz!
A dama tem muitos semblantes
que se transformam noite e dia...
Pode ser nada em um só instante
Mas jamais deve ser vazia!
Poesia... Poesia... Quem diria!