De uma noite insône

Flor mais improvável que no jardim houvera,
singela,
te queria minha, te queria bela,
se tua existência fosse possível, fosse real
te queria toda, sensual,
de um modo jamais visto, sem igual, não banal,
pois o sentimento sincero
que em mim resiste, triste
de um momento incompleto
que durou tão pouco, louco
de tua face meiga
que minha memória não esquece,
nem desvanece,
mas que de fato até te desconhece.

Sonhos, tolos sonhos de um poeta insône
que de uma noite mal dormida
de onde nasceu esta poesia,
que de mal parida não satisfaz jamais
e que mesmo pronta ficou a alma vazia
a esperar que meus versos pobres me perdoem a ousadia
e justifiquem um dia
tamanho desencontro
que eu por mim já parto
e logo vou que já me encontro pronto,
direito ou torto, e quase que morto,
nada mais me importa
que achar a porta de saída
e que saudoso deixo aqui minhas memórias
de uma história talvez jamais escrita
mas que grita em mim
cansada de se ver sufocada
querendo que a vida que não me foi permitida
que foi enfim tão improvável
como a flor jamais achada,
aquela mesma, singela
que se no jardim houvera
eu colheria, bela, para o meu deleite
e a trataria não como rara
mas como única
pois que a rara, ainda que o fosse
me permitiria achar outras tão parelhas,
mas como única somente ela existe.