Chove
(Célia de Lima)

Chove.
Tudo quanto, de repente,
se imagina,
tem essa mesma chuva
fina.

A ave que se intimida,
a janela, a casa, a alma,
a música quase inaudível.

Chove há horas.
E a terra quieta
é uma poesia
compondo ares
de outras letras,
bem pequenas.

Chove ainda.
O pássaro que se aninha
é a pressa e a tarde,
a alma e a prece,
o verso,
e a vida.