Nenhures

Como um tigre, a manhã se aproxima.

Arma o bote diante do abismo.

Que universo é este?

Que Deus me guia?

Mastigo estrelas quentes como brasas,

me queimam a língua, como uma palavra.

Saco a morte do bolso,

atiro contra o enigma.

Carrego a minha cruz às costas, com galhardia.

Beijo a cruz como aos lábios de uma mulher.

O demônio me bafeja o calcanhar,

me cega os olhos cansados do caos cotidiano.

A árvore da eternidade tem as raízes para o ar.

Pássaros voam com ramos verdes no bico,

e caem pesados, estupefatos.

As águas vão e voltam, inúteis.

Além do véu

e dentro do espelho,

conheço quem sou: ninguém.

Espectro de outrem me habita.