Labirinto dos descaminhos...

(Ao Dionísio Dinis)

Quando eu me sinto mal

Eu procuro as árvores

E fico um pouco sozinho,

Ou então caminho um pouco,

Sem querer, sem destino...

Minhas árvores expelem solidão,

Seus frutos, fantasmas ignotos,

Têm-me alguma paixão mortal...

Entre os passos pantanosos

Vozes de estrangeira mitologia

Cantam infrasonoramente

Uma história que conheço,

Que desconheço, e reconheço...

Apalpar essas ondas de Sulreais

Origens e deitar-me sobre elas

A decifrar seus borgeanos sentidos

Tem-me sido uma tarefa comum,

Nunca compreendia,

Que me causa doces exílios humanos...

Dentro desses olhos absortos,

A cegos ouvidos, me nascem

Realidades em chumbo,

Antigas amigas,

E invadem-me lembranças estranhas,

A esvair-me as vitais forças,

A fazer minha alma cair

Num lugar seco,

De ausente carinho...

Eu quase sempre me sinto mal

Quase sempre ando sozinho

Sem rumo

Sem busca,

Vivendo,

Morrendo,

Caindo abraçado a minha alma

Rumo ao labirinto dos descaminhos...

(... a vida flui, nada fica, só a lembrança permanece...)

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 25/10/2006
Reeditado em 28/06/2017
Código do texto: T273548
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