Labirinto dos descaminhos...
(Ao Dionísio Dinis)
Quando eu me sinto mal
Eu procuro as árvores
E fico um pouco sozinho,
Ou então caminho um pouco,
Sem querer, sem destino...
Minhas árvores expelem solidão,
Seus frutos, fantasmas ignotos,
Têm-me alguma paixão mortal...
Entre os passos pantanosos
Vozes de estrangeira mitologia
Cantam infrasonoramente
Uma história que conheço,
Que desconheço, e reconheço...
Apalpar essas ondas de Sulreais
Origens e deitar-me sobre elas
A decifrar seus borgeanos sentidos
Tem-me sido uma tarefa comum,
Nunca compreendia,
Que me causa doces exílios humanos...
Dentro desses olhos absortos,
A cegos ouvidos, me nascem
Realidades em chumbo,
Antigas amigas,
E invadem-me lembranças estranhas,
A esvair-me as vitais forças,
A fazer minha alma cair
Num lugar seco,
De ausente carinho...
Eu quase sempre me sinto mal
Quase sempre ando sozinho
Sem rumo
Sem busca,
Vivendo,
Morrendo,
Caindo abraçado a minha alma
Rumo ao labirinto dos descaminhos...
(... a vida flui, nada fica, só a lembrança permanece...)