Tábua Rasa
O meu surgimento deu-se como uma tábua rasa
Límpida, isenta de rasuras e remendos.
Até que a quiseram talhar com traços fortes
Aceleradamente criando planos, limites e destinos.
Adentraram-se noites a fio ao pálido mármore,
Esperando que com muita resignação
Deixasse-me desenhar pelo lápis providente.
Entretanto,
Sou a tábua que possui seus sedimentos,
Que fora constituída pelo seu calcário e sua argila.
Porém a opacidade de meu material
Deixa-me longe de ser o reflexo de suas vontades.
Deslizo-me de seus dedos
Para ser arrebatada pelos meus anseios
Sendo esculpida por uma jornada pessoal.
Ainda que toda retalhada
Pelas tentativas de consertar os erros.
Sem saber como devo parecer ao mundo,
Quero deixar-me traçar
Pelo compasso misterioso da vida.
Estando sujeita a me reunir aos visualmente poluídos.
Caso os rabiscos não tomem forma,
E os segmentos de retas não cheguem a se encontrar.