Tábua Rasa

O meu surgimento deu-se como uma tábua rasa

Límpida, isenta de rasuras e remendos.

Até que a quiseram talhar com traços fortes

Aceleradamente criando planos, limites e destinos.

Adentraram-se noites a fio ao pálido mármore,

Esperando que com muita resignação

Deixasse-me desenhar pelo lápis providente.

Entretanto,

Sou a tábua que possui seus sedimentos,

Que fora constituída pelo seu calcário e sua argila.

Porém a opacidade de meu material

Deixa-me longe de ser o reflexo de suas vontades.

Deslizo-me de seus dedos

Para ser arrebatada pelos meus anseios

Sendo esculpida por uma jornada pessoal.

Ainda que toda retalhada

Pelas tentativas de consertar os erros.

Sem saber como devo parecer ao mundo,

Quero deixar-me traçar

Pelo compasso misterioso da vida.

Estando sujeita a me reunir aos visualmente poluídos.

Caso os rabiscos não tomem forma,

E os segmentos de retas não cheguem a se encontrar.

Rafaela Barreto
Enviado por Rafaela Barreto em 13/01/2011
Reeditado em 16/12/2012
Código do texto: T2726120
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