SABORES
Pela sinuosidade do balcão
Dorothy mirava-o
E o comia com todos os olhos
Serpenteava sua língua
por entre os dentes pontiagudos
Ora subia-os
Ora descia-os
Num movimento delicioso!
Cléo n’outro canto
retratava toda aquela insinuação
E com a boca babada
delicadamente mordiscava
o pastel de queijo
Que tão quente tava
Que soprá-lo?
Nada adiantaria...
Melhor então fez:
Deixou-o escorrer
do alto ao céu de sua boca
Deixando-o na temperatura ideal pra saciar toda a fome
Lambe-o... Sugo-o desesperadamente
Pura...
Livre...
E sem nenhum pudor!
N’outro lado Dorothy lambuzava toda a massa
Colorizando os seus lábios...
Seus dentes...
Toda a língua!
Ora de vermelho...
Ora amarelo
Permitindo-se a troca de fomes
Apesar do balcão
Aquele Chinês da Avenida Paulista
Tinha um quê de sabor & sedução
O calor de seus quitutes...
Alimentava o corpo todo
Apimentava os desejos
E saciava todas as fomes...