Arte poética
Quero escrever como um velho que tece a sua rede
até gastar os olhos e os dedos, como Penélope
à espera de Ulisses, como Ulisses
enfrentando a morte mil vezes.
Quero escrever como o ferreiro moldando o ferro em brasa
na forja. Como o escultor moldando
a pedra fria. Como um louco
tirando leite da pedra
e bebendo.
Quero escrever como uma criança
esperando a pedra florescer.
Quero escrever como o meu pai,
que preparava a terra
e esperava
a chuva e o sol,
o tempo de plantar e o tempo
de colher.
A poesia é um longo exercício de paciência.
A palavra precisa morrer, como a semente, para renascer.