EM MIM
Uma escassez de brilhos
sopra em sombras sobre minha alma.
Deito-me, sentindo o som entorpecente
da ausência, amassando meu ser.
Tenho uma carência de horizontes.
Meu olhar de pálpebras pesadas
posta-se porta adentro em pausa.
Tudo é mormaço; imenso, mudo, manso.
As horas arfam sob fardos enfadonhos,
amorfas, crônicas, circunspectas.
Recorro ao vinho.
Busco mel e frutas silvestres em seu rubi intenso.
Reparo nos vapores invisíveis dos aromas
que voam em valsas no aparente vazio da taça.
E de repente, sinto que ela, a taça,
é sensível símbolo da essência desse ser que sou eu.
O coração ensaia um sorriso sob o som da esperança.
Não. Não há vazios verdadeiros a me devorar.
Mesmo o que não vejo em mim
resplandece em aromas e essências sutis de sonhos.
Sou mais do que eu mesmo posso ver.
Sou igual a todos os seres...
Infinito em mim mesmo.