AUTODOMÍNIO
Que eu me lembre,
somente uma vez meu coração pulsou desta maneira,
enlouquecidamente.
E custou a passar. Tornou-se quase
uma obsessão, um vício, um mal.
Esquecia-me de mim
e tudo ao meu redor não existia.
Apenas a paixão desordenada e intensa
a transbordar pelos meus poros,
pelo meu suor.
Em cada rosto,
a procura do rosto amado
e a vontade incontrolável de encontrá-lo
em cada encontro...
... e em cada desencontro
a certeza de que tudo me fugia,
num despertar cruel e lento
para uma assustadora realidade.
Depois, a saudade
ocupando o lugar da esperança.
Dia após dia, noites insones,
lágrimas derramadas no silêncio
de tantas madrugadas sós...
Vejo agora repertir-se o fato,
a tolher minha vontade,
a me tirar a paz!
Percebo-me andando pela mesma estrada
que a nada me conduz.
(Incontido coração, sossega:
não caminhes mais!)
Ah, não!
Mais uma vez não me será possível
aguentar tamanho sentimento
que me toma inteira e me enfraquece
como um temporal devastador.
Não.
Lutarei com as forças que me restam
para sobrepujar ao meu desejo,
para desencantar as ilusões,
para não me deixar morrer de amor!