VENDAVAL
Queria poder te ver, e te falar, e te sentir
sem barreiras ou medo...
Queria voltar a confiar em ti
e ter-te, além de tudo, como amigo.
Queria poder te olhar e sentir teus olhos
vindo ao encontro dos meus
e crer nas tuas verdades sem receio
de que fossem apenas mentiras,
nada mais...
Eu queria que estivesses como antes
ocupando de forma especial
meus pensamentos,
sem preencheres dessa forma angustiante
os espaços vazios de minha vida!
Ah, vendaval que carregou meus sonhos
e desfez as ilusões que eu possuía,
que transformou em desespero a esperança
e em saudade tantas lembranças minhas!...
Ah... de quem serei ou terei o amor sonhado,
ocupante dos meus mais íntimos desejos?
Quem merecerá meus sentimentos
além de ti, que nada mereceste?
Tuas mentiras sufocaram as verdades
que conviveram em mim na tua ausência,
que em mim estiveram na minha distância...
E enterraste toda uma espera
e a concretização de todas as quimeras...
Ah, pudesse eu e te teria agora
não como amante... muito mais que isso:
como o amigo leal e verdadeiro
que sempre julguei fosses...
... E enganei-me...
E se não te posso ter mais como o amigo,
de que me vale ter-te como o amante
se meus prazeres serão carnais somente
e em vão trarás de volta uma esperança?...
Queria ter-te...
Mas preferível é deixar
que a distância se torne cada vez maior,
que os sentimentos antigos se percam na saudade
para que ainda reste a saudade...
... Para que ainda reste alguma coisa
depois do vendaval!