Efeito Colateral

A bula é clara.

O corpo,

Carente do remédio

com a lupa e muita luz,

lê a bula, clara

decifra as letras - microscópicas

só não as traduz

Ignora o tédio.

As entrelinhas

se disfarçam, se escondem

ainda mais miudinhas.

O efeito colateral é certo, inevitável

Dele corremos, fugimos,

Em vão

De repente, ele tão perto

Invariável

Antagonicamente irremediável.

Esses efeitos nos alcançam

Via venal, em vidros

Líquidos, avançam

Engolidos, comprimidos.

Seja na saúde, seja no pranto

Acham um jeito e nos acuam num canto

Se nos pegam pelo coração,

Nossa perdição!

São mais poderosos, gigantes

Deixam-nos tolos,

tontos ingênuos amantes

Melhor seria

Se de medicamentos

A gente não precisasse

Melhor ainda seria

Se sentimentos

A gente dispensasse

O corpo não gemeria.

De ler bulas

Nem precisaria.

Tudo desinfetado

Tão límpido, imune

Vida protegida

em esterelizada roupagem

A alma sofreria, reclamaria

Tamanha blindagem.

Lucia Sant ini
Enviado por Lucia Sant ini em 12/09/2010
Reeditado em 19/09/2010
Código do texto: T2493881
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