O cachorro

O cachorro me olhou com o silêncio

lacrimejante das janelas-enigma,

sempre fechadas, sem palavras, sangue

e sal diluidor, e latiu forte

como a morte, como árvore de espantos.

O cachorro rompeu o seu silêncio

de pedra exausta: precisava a dor

dizer ao mundo. O sangue na terra

clamava aos céus, o breve fim, a angústia

milenar, consentida, mas angústia.

O cachorro floriu diante do mar,

em êxtase com a água, a eternidade

nos olhos mansos, vendo o tempo frágil

desfazer-se na fria areia efêmera.