SE
Se o que ouvíssemos fosse a verdade plena e não a ilusão de sempre
Se a ilusão de sempre não fosse tão tributável
Se o que plantássemos fosse colhido por nós mesmos e não por outras mãos
Se as nossas mãos não fossem tão ingênuas ao tocar a terra ou
Se as nossas mãos não fossem tão dissimuladas ao evitar o chão
Se o dia fosse outro dia e outro dia e o tempo não chegasse a nós nunca
Se o poema que é feito agora não precisasse de palavras, mas de vento apenas
Se o poeta, ser estranho e inconstante, fosse mais real e mais humano e menos sonho
Se tudo o que soubéssemos virasse nada e do nada tivéssemos um caminho
Se a dúvida norteasse para sempre os devaneios do homem
Se a miséria, filha de outra miséria, não procurasse mais miséria
Se o último verso pudesse conter toda a poesia existente
Talvez assim
O mundo e o sol, o amor e os corpos enamorados, o dia e os ponteiros fizessem mais sentido