SE

Se o que ouvíssemos fosse a verdade plena e não a ilusão de sempre

Se a ilusão de sempre não fosse tão tributável

Se o que plantássemos fosse colhido por nós mesmos e não por outras mãos

Se as nossas mãos não fossem tão ingênuas ao tocar a terra ou

Se as nossas mãos não fossem tão dissimuladas ao evitar o chão

Se o dia fosse outro dia e outro dia e o tempo não chegasse a nós nunca

Se o poema que é feito agora não precisasse de palavras, mas de vento apenas

Se o poeta, ser estranho e inconstante, fosse mais real e mais humano e menos sonho

Se tudo o que soubéssemos virasse nada e do nada tivéssemos um caminho

Se a dúvida norteasse para sempre os devaneios do homem

Se a miséria, filha de outra miséria, não procurasse mais miséria

Se o último verso pudesse conter toda a poesia existente

Talvez assim

O mundo e o sol, o amor e os corpos enamorados, o dia e os ponteiros fizessem mais sentido

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 02/09/2010
Código do texto: T2474586
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.