RESSURGIMENTO
... E você me ressurge exatamente agora...
Revolvo as lembranças,
tento encontrar-lhe nos meus momentos,
esforço-me para recordar o que um dia fomos
em adolescentes...
Ressurge
banhado de carinho
e descubro você, tão menino ainda,
embora homem,
conservando, não inocência,
mas candura e ingenuidade.
E continuo tentando encontrar-lhe
nos momentos que tive,
mas você não esteve presente.
E nem sequer lembrava-me da canção que lhe escrevi,
tempos atrás,
nem dos carinhos que trocamos
com a impetuosidade da juventude...
Você me ressurge,
não como uma esperança (já não a tenho mais)...
E, no entanto,
vem preencher-me esse vazio enorme
com seus beijos ingênuos,
com seu carinho quase infantil
há tanto tempo esquecidos,
há tanto tempo não recebidos...
Das amarguras por que passo,
das decepções que me vieram,
do pranto que ainda choro
e da solidão que me acompanha,
ressurge, qual névoa de um passado longínquo,
você,
que pouco ficou em mim,
ausente em todos os momentos,
não lembrado nas alegrias,
esquecido nas tristezas...
Você,
um vulto anônimo em minhas recordações,
uma lacuna em minha vida,
um simples passado
sem marcas, sem mágoas,
sem saudade...
Reaparece assim, tão de repente,
devolvendo a metade que se foi de mim,
trazendo-me o temor de me envolver
pela sua simplicidade tão sincera,
assustando-me pela descoberta
de nos identificarmos tanto,
apesar do tempo,
apesar do pranto,
apesar da vida,
apesar de tudo...