NÓS QUE FOMOS TÃO ROMÂNTICOS

Nós que éramos tão ingênuos.

Nós que éramos tão sonhadores.

Nós que queríamos mudar o mundo

e, sem querer, mudamos.

Nós que fumávamos maconha.

Nós que não transávamos,

que só tocávamos bronha.

Nós que - depois - inventamos a pílula

e o amor livre.

Nos que líamos,

ou fazíamos de conta que líamos:

Sartre, Marcuse, Marx, Dostoievsky,

Hesse, Brechet, Furtado, Huxley.

Nós que éramos apaixonados pela Nara.

Nós que apanhamos da polícia.

Nós que fizemos a passeata dos cem mil.

Nós que - tanto fazia - pegamos ou não em armas.

Nós que fomos presos, torturados, desaparecidos,

degredados, amordaçados, censurados.

Nós que tivemos os nossos sonhos

de liberdade despedaçados.

Nós que vivemos num tempo nada fácil.

Nos que queríamos fazer uma nova lei.

Nós que ficamos odara.

Nós que - alguns - desbundamos.

Nós que gritamos diretas já!

Nós que dormimos Tancredo

e acordamos Sarney.

Nós que fomos roubados

e tivemos a vida descollorida.

Nós que não encontramos o Lula, lá

onde o coolocamos.

Nós que ainda tanto queremos.

Nós que - sobreviventes - temos sessenta, ou mais.

Nós que fomos tão irresponsavelmente românticos. . .

- por JL Semeador, em 24/08/2010 -

jlsantos
Enviado por jlsantos em 25/08/2010
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