HÁBITOS
Habituei-me ao teu jeito de ser,
aos teus pedidos, às tuas negações,
à tua ternura,
à tua infantilidade.
Habituei-me à tua indecisão,
aos teus problemas existenciais,
aos teus ímpetos,
à tua indiferença.
Habituei-me à inconstante presença
que ora estava, ora me fugia,
às tuas certezas,
às indagações.
Habituei-me à espera ansiosa
sem saber se vinhas ou faltavas,
ao toque teu,
às tuas rejeições...
Habituei-me a sorrir por um carinho
escasso, pobre, indefinido.
Habituei-me a chorar só por pensar
que esse carinho pobre, indefinido
pudesse um dia me faltar...
Habituei-me às coisas que fazias
e as que não fazias, entendia,
e procurava habituar-me
aos teus hábitos.
Habituei-me a ti. Foi puro hábito
que hoje, de tanto habituar-me,
habituei-me a conviver com tua falta
e a saber viver sem ter-te em hábito.