E AGORA?
E agora que te roubaram a luz e o caminho
e te disseram não haver destino
e te agarraram pelos colarinhos
e não escreveram mais um hino
e tudo são gritos e dores e sombras e medos e caos?
E agora que te dobraram os joelhos
e te deram tapas na cara e sangraram a valer
e te rasgaram as vestes e te machucaram a pele
e não deixaram mais o sol
e tudo são gemidos e pesadelos e a mesmice e o mal?
E agora que te cortaram a fala e a língua
e deram um nó em tudo e te deixaram só
e esconderam as janelas e os olhos
e destruíram as chaves
e tudo não passa de um poema pessimista? Que tal?
Não resta nada e nada é nada que o poema é
versos brutos e feios e inteiros contra você
versos sujos e fortes e inteiros contra você
não-versos e não-poema feitos para você
e o que diz? O que diz? O quê?
Não tens nada a dizer porque agora não és
não tens nada a fazer porque estão presos os pés
não há nada por escrever porque a escrita não quer
E então, chamarás por José?