E AGORA?

E agora que te roubaram a luz e o caminho

e te disseram não haver destino

e te agarraram pelos colarinhos

e não escreveram mais um hino

e tudo são gritos e dores e sombras e medos e caos?

E agora que te dobraram os joelhos

e te deram tapas na cara e sangraram a valer

e te rasgaram as vestes e te machucaram a pele

e não deixaram mais o sol

e tudo são gemidos e pesadelos e a mesmice e o mal?

E agora que te cortaram a fala e a língua

e deram um nó em tudo e te deixaram só

e esconderam as janelas e os olhos

e destruíram as chaves

e tudo não passa de um poema pessimista? Que tal?

Não resta nada e nada é nada que o poema é

versos brutos e feios e inteiros contra você

versos sujos e fortes e inteiros contra você

não-versos e não-poema feitos para você

e o que diz? O que diz? O quê?

Não tens nada a dizer porque agora não és

não tens nada a fazer porque estão presos os pés

não há nada por escrever porque a escrita não quer

E então, chamarás por José?

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 15/07/2010
Código do texto: T2378463
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