INERTE
O vento inerte, neste meu ser padece com o chegar do Outono,
Seu vazio me acolhendo e me ninando num sonho sem rumo
Donde o meu próprio alento falece baixo essa chuva fria e cruel
Que molha cada pedaço da minha pele com insistente adoento
E favorece a presença da fatalidade em cada lágrima vertida...
Tua ausência hoje abastece todo e cada sentido dentro de mim
Sem tu teres consciência da saudade sem fim que deixastes viva,
Correndo veloz dentro do peito, livre e atroz na sua imensidade,
Indubitávelmente falecendo e esmagando este meu mero corpo
Que ainda ontem foi teu no nosso leito, mas hoje é apenas meu...
Falam que a dor passa e todo momento tem um príncipio e um fim
Mas o que jamais contam é que nem todo amor é exatamente assim,
Um sentimento libertino sem pudor que simplesmente ira morrer!
Mas sim o nosso alimento que nasceu muito antes do nosso nascer
E ao invés de padecer no instante azarento, apenas aprende a ser.
Salomé
Ess. “Acções e Reações” 2010